Sunday, March 04, 2007

Intrevista de Alfredo Reinado ao Publico


PÚBLICO, 28 de Fevereiro de 2007



Reinado afirmou que não existe qualquer
mandado de captura para a sua prisão


Entrevista telefónica à Lusa
Major Reinado diz que Xanana o envergonha enquanto líder
28.02.2007 - 10h39 Lusa

O major Reinado, cercado por tropas australianas na vila de Same, a sul de Díli, disse hoje ter "vergonha" de Xanana Gusmão, afirmando numa entrevista à Lusa que os efectivos portugueses da GNR devem regressar a casa.
"Sinto tristeza e vergonha de ter um líder como o senhor Xanana, que não pensa duas vezes, que não quis saber da realidade e que agiu antes de pensar mandando uma força internacional contra mim", disse à Lusa, num contacto telefónico.

Reinado, que pediu para a entrevista ser em inglês - afirmando que já perdeu a sua "costela" de português - afirmou que não existe qualquer mandado de captura para a sua prisão e que, por isso, a ordem de actuação dada às tropas australianas para o cercarem "é ilegal".
"Eu não me rendi nunca porque até aqui os meus direitos não foram respeitados. Porque é que isto não ficou nas mãos da justiça? Porque não há um mandado para a minha captura? Porquê enviar tropas", questionou.

"A Austrália não tem autorização para intervir na justiça de Timor-Leste. Onde está a soberania e a dignidade deste país e dos seus líderes?", questionou.

Reinado, que está no centro de Same cercado desde ontem por efectivos militares australianos, criticou igualmente Portugal, afirmando que deve retirar de imediato o seu contingente da GNR no terreno.
Questionado directamente sobre que mensagem tinha para Portugal, Reinado foi peremptório: "Go home".
"Porquê mandar a GNR para aqui, para se tornarem em soldados contratados do Mari Alkatiri, para servir os seus interesses?", questionou. "Isso vai destruir a relação entre os nossos países. Que os chamem para casa depressa", afirmou.

Na entrevista à Lusa, Reinado negou ter atacado qualquer posto militar - uma acusação que motivou, por ordem da Presidência da República, a acção em curso em Same, a 81 quilómetros sul da capital, Díli.
"É uma grande mentira. Nunca ataquei ninguém. Fui como amigo, bebi café com eles, almocei com eles. Eles deram-me algumas armas mas para defender o povo. Ficaram com as suas pistolas nos coldres", afirmou.
"Alguns voluntariamente vieram comigo. Como se pode atacar um posto armado [...] sem som de disparos, sem ninguém ser ferido, sem confrontos, e a poucos metros da fronteira com a Indonésia e os indonésios não ouvirem nada", afirmou.
Reinado acusou ainda Xanana Gusmão de travar a transmissão de declarações feitas por si, ontem, e por outras pessoas que o acompanhavam, afirmando que "não deixaram que essas declarações fossem transmitidas".

"O senhor Xanana e o senhor Horta não queriam que isto fosse dito. Porquê fazer isso? É só propaganda, só mentiras. Que façam a investigação, que saibam verdadeiramente o que aconteceu", afirmou.
Questionado sobre o número de pessoas ou de armas que tem consigo, Reinado disse que "um militar não pode revelar esses dados", afirmando porém que "mais pessoas estão a caminho".
"Vocês vão ver. Virão mais pessoas. Voluntariamente. Porque eu estou a defender o povo. Não os interesses políticos", afirmou.
Relativamente ao cerco em curso, Reinado considera que se trata de uma tentativa clara de o neutralizar. "Penso que a razão desta acção é porque me querem abater. Querem fechar-me a boca, não querem que diga a verdade", afirmou. "Se não fosse para isso, porque estariam já a tomar estas acções? Sem negociações e sem investigações. Será que o melhor para resolver isto é mesmo com armas?", questionou.
Criticando duramente a liderança política timorense, Reinado atacou em particular Xanana Gusmão afirmando que "tem que se tornar um líder a sério, que respeita as pessoas e não um líder que serve o seu interesse pessoal".
À comunidade internacional apelou para que "respeite a soberania e a independência de Timor-Leste", afirmando que quem está no terreno "deve agir de forma humanitária e não envolver-se na política". "Amanhã, se eu ainda estiver vivo, e voltar a ver o nascer do sol, falamos mais", afirmou.
Em entrevista à Lusa, o comandante das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) estacionadas em Timor-Leste, brigadeiro Mal Rerden, afirmara ontem que a rendição era a única opção que resta ao major timorense Alfredo Reinado.
O brigadeiro Mal Rerden sublinhou ainda que "Reinado é claramente uma figura significativa nesta situação".
A situação em Timor-Leste agravou-se na sequência do ataque perpetrado domingo pelo major Alfredo Reinado, antigo comandante da Polícia Militar timorense, a três postos da polícia junto à fronteira com a Indonésia, o que levou segunda-feira o Presidente timorense, Xanana Gusmão, a ordenar a captura e prisão do oficial rebelado.
Os soldados australianos cercaram ontem, na cidade de Same, elementos suspeitos de pertencerem ao grupo do major Reinado, entre os quais estará o próprio militar revoltoso.
As ISF estão a conduzir operações em todos os 13 distritos do país, tendo em vários deles as operações sido reforçadas em apoio ao recenseamento eleitoral.

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