Timor-Leste: PM e três ministros ordenam envio de forças armadas
Por Rui Boavida (Texto) e Manuel de Almeida (Fotos), enviados da Agê ncia Lusa.
Díli, 18 Mai (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, ord enou a intervenção das forças armadas, na sequência das manifestações de 28 e 29 de Abril, perante um gabinete de crise constituído por três ministros e pelo Co mandante-Geral da polícia, disse hoje à Agência Lusa o número dois da hierarquia militar, que recebeu e cumpriu as ordens.
"No momento e no local em que a ordem me foi dada estavam presentes o m inistro da Defesa, Roque Rodrigues, a ministra de Estado e da Administração Esta tal, Ana Pessoa, o ministro do Interior, Rogério Lobato e o Comandante-Geral da Polícia, Paulo Fátima Martins," afirmou à Agência Lusa o coronel Lere Anan Timor , que recebeu as ordens dadas pelo primeiro-ministro.
Lere realçou em declarações exclusivas à Agência Lusa que as Forças Arm adas não foram as primeiras a disparar, tendo os manifestantes apedrejado, arrem essado duas granadas e disparado quatro tiros sobre o contingente militar, antes das forças de Lere terem respondido.
"Aquele que dispara contra mim é inimigo," disse o coronel que, explica ndo o princípio geral de actuação das forças armadas, afirmou que "quando as for ças estão no terreno e as forças opostas disparam, as forças armadas podem respo nder." O coronel disse ainda que Mari Alkatiri lhe transmitiu as ordens oralme nte.
Fontes da Presidência da República afirmaram hoje à Agência Lusa que, p ela Constituição timorense e pela lei orgânica das Falintil - Forças de Defesa d e Timor-Leste (Falintil-FDTL), o Primeiro-Ministro "não pode nunca dar ordens or ais" para que as forças armadas partam em auxílio da polícia em situação de cris e.
O coronel Lere confirmou hoje também à Lusa que as ordens lhe foram tra nsmitidas no domicílio de Mari Alkatiri em Díli enquanto decorria, no dia 28 de Abril no bairro de Taci Tolo, na capital, o primeiro de dois dias de confrontos violentos entre efectivos das Forças Armadas e militares contestatários, na sequ ência das manifestações de cerca de 600 militares que protestavam contra o seu a fastamento do Exército. Os confrontos provocaram, segundo números do governo, cinco mortos e de zenas de feridos.
A versão do encontro entre Lere Anan Timor e Mari Alkatiri é confirmada pelo major Alfredo Reinado, comandante da Polícia Militar, que hoje acusou o pr imeiro-ministro timorense de ter ordenado directamente às Forças Armadas para su bstituírem a polícia nos confrontos em Díli, e diz ter sido testemunha presencia l de todo o processo de decisão.
"Naquela sexta-feira, fui buscar ao aeroporto o ministro da Defesa, mas ele recusou-se a sair. Fui então buscar o coronel Lere para se encontrar com o ministro no aeroporto. Quando Lere chegou, pediu ordens ao ministro da Defesa. O ministro não deu resposta nenhuma e disse-lhe para contactar o primeiro-ministr o. "Eu estava lá," afirmou à Lusa o major Reinado, actualmente acantonado na região de Aileu com cerca de 20 outros militares que abandonaram a cadeia de comando.
"Fui eu que levei o ministro da Defesa e o coronel Lere ao Palácio do G overno. Depois, o meu motorista levou o ministro e o coronel Lere para se encont rarem com o Primeiro-Ministro. Quando o coronel Lere voltou do encontro, disse q ue já tinha recebido ordens. A partir daí iniciou a missão e todo o resto se des enrolou".
O major Reinado denuncia a decisão de Mari Alkatiri como "inconstitucio nal" e "ilegal", porque, diz, o Presidente da República Xanana Gusmão, Comandant e Supremo das Forças Armadas, não foi nunca consultado.
A lei orgânica das Falintil - Forças de Defesa de Timor-Leste (Falintil -FDTL) define que um Gabinete de Crise só pode emitir uma Declaração de Crise "d eclarada pelo governo em concertação com o Presidente da República".
Fontes da Presidência da República confirmaram hoje à Agência Lusa não ter havido nenhum encontro entre o Presidente da República, Xanana Gusmão, e o p rimeiro-ministro, Mari Alkatiri, no qual tenha sido abordada a possibilidade de intervenção das Falintil - Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).
A denúncia das responsabilidades de Mari Alkatiri na chamada das Forças Armadas surge no primeiro de três dias de congresso da FRETILIN, no qual José L uís Guterres desafia a liderança ao actual primeiro-ministro e secretário-geral do partido.
Lusa/Fim
Tuesday, May 23, 2006
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