Timor-Leste: Ramos Horta alerta para riscos de demissão do primeiro-ministro
Díli, 30 Mai (Lusa) - O ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, José Ramos-Horta, alertou hoje para os riscos de uma demissão do primeiro-ministro, tendo em conta que a FRETILIN foi o partido mais votado nas eleições de 2001.
A eventual demissão do primeiro-ministro, Mari Alkatiri, "poderá parecer a decisão mais simples, mas não o é necessariamente", afirmou Ramos-Horta, referindo-se, nomeadamente, às implicações que uma decisão deste tipo teria sobre os membros da FRETILIN, o partido no poder, que designou Alkatiri, secretário-geral, como primeiro- ministro.
"Numa hipótese teórica de ele ser demitido, é necessário questionar quais seriam as implicações junto da FRETILIN e dos seus apoiantes, uma vez que é o maior partido no país e que recebeu uma votação maciça nas eleições de 2001", acrescentou o ministro em conferência de imprensa.
Em contrapartida, considerou como normal, uma remodelação governamental em consequência dos conflitos registados na capital timorense, mas negou a teoria avançada anteriormente por Mari Alkatiri, de que os confrontos que decorrem desde quarta-feira em Díli, com lutas entre grupos civis armados e o saque e incêndio de casas, sejam "um golpe de Estado" com "motivações políticas".
"Acredito que haverá uma remodelação governamental, até porque noutros países há ministros que se demitem devido a questões menores em comparação com as que decorreram actualmente em Timor-Leste", disse Ramos-Horta, antes de ter terminado a reunião do Conselho de Estado.
Sobre o "golpe de Estado", afirmou: "Não acredito e não existe qualquer indicação de que se trate de um golpe de Estado, mas suspeitamos que alguns elementos timorenses estão por trás destes grupos de marginais e de jovens que têm estado envolvidos nos conflitos".
Neste âmbito, prometeu para breve "uma investigação objectiva para descobrir quem são estes grupos e quem está por detrás das suas acções".
Ramos-Horta considerou ainda ultrapassada, por agora, a hipótese de guerra civil no país, uma vez que quer as forças armadas, quer a polícia e os militares que abandonaram a cadeia de comando e se refugiaram nas montanhas timorenses aceitaram acantonar-se nas suas actuais bases e não fazer uso das armas que têm consigo.
O Brigadeiro-General Mick Slatter, comandante das forças australianas em Timor-Leste, que também participou na conferência de imprensa, considerou, por seu lado, que "segunda-feira foi um dia- chave no desenrolar dos acontecimentos" por ter sido o dia com menos casos de violência desde quarta-feira, quando elementos das forças armadas atacaram o quartel-general da polícia, causando mais de uma dezena de mortos.
"Temos as forças que necessitamos para garantir a ordem e a segurança na capital timorense, para que as pessoas em Díli possam começar o diálogo para resolver os seus problemas" disse Mick Slatter, adiantando que as forças australianas confiscaram já entre 300 e 400 armas, incluindo artilharia pesada, espingardas, metralhadoras, pistolas e armas tradicionais, como machadas e catanas.
Na conferência de imprensa de hoje participaram ainda os comandantes das forças internacionais da Nova Zelândia e Malásia.
RB.
Lusa/fim
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