Thursday, May 25, 2006

Timor-Leste: Confrontos entre polícias e militares agravam situação

Timor-Leste: Confrontos entre polícias e militares agravam situação


Díli, 25 Mai (Lusa) - A crise político militar em Timor-Leste agravou-se hoje após confrontos entre polícias e forças armadas que terão provocado perto de 20 mortos, o que levou o presidente Xanana Gusmão a chamar a si toda a responsabilidade pela segurança do país.

Cerca de 20 pessoas terão morrido e várias dezenas ficaram feridas nos confrontos de hoje, segundo várias fontes contactadas pela Agência Lusa.

O incidente que mais vítimas mortais provocou ocorreu logo ao princípio da manhã durante uma rendição de polícias timorenses, negociada pela força de polícia da ONU (UNPOL), que acabou com nove polícias timorenses a serem mortos, vítimas de disparos de efectivos do exército timorense.

Os disparos provocaram ainda dois feridos graves entre os polícias estrangeiros da UNPOL, um filipino e um paquistanês.

Este incidente foi, por outro lado, o primeiro que envolveu portugueses, com os seis polícias integrados na UNPOL, um dos quais dirigia a operação, debaixo de fogo mas a escaparem ilesos.

O caso levou o chefe da diplomacia portuguesa, Diogo Freitas do Amaral, a elogiar publicamente "o alto sentido de responsabilidade e sangue frio" dos dois oficiais superiores da polícia nele envolvidos, o subintendente Nuno Anaia e o coronel Fernando José Reis.

Mas a violência já tinha começado antes, provocando a morte de um oficial de polícia timorense junto ao mercado de Comoro, onde ocorreram os primeiros confrontos entre efectivos das forças armadas e polícias.

Ao longo do dia, os sucessivos episódios de confrontos, inicialmente contra a sede do comando distrital de Díli da Polícia Nacional de Timor-Leste, e posteriormente contra o quartel-general da corporação, terão provocado, segundo fonte hospitalar, três mortos e 38 feridos.

Há ainda notícias da morte de um efectivo das F-FDTL em Liquiçá, a cerca de 40 quilómetros de Díli, e de baixas entre os homens que acompanham o major Alfredo Reinado, líder de uma das facções revoltosas, e de alguns dos antigos soldados afastados do exército em Março.

O número de vítimas civis é ainda desconhecido, mas houve testemunhas que relataram ter visto uma carrinha de caixa aberta circular pelas ruas de Díli com homens fardados armados disparando indiscriminadamente contra a população e uma outra testemunha que disse ter visto três cadáveres no interior de uma das várias casas incendiadas no bairro de Delta Comoro.

"Os focos de violência ocorreram em vários pontos da cidade ao mesmo tempo. Tivemos três horas de confrontos intensos. Fazer o balanço total de vítimas ainda não é possível", afirmou ao fim do dia um elemento da Administração de Díli à Lusa.

Segundo fonte do governo, a instabilidade que hoje se viveu em Díli não foi suscitada pelo grupo do major Alfredo Reinado, mas a "grupos armados desorganizados e desgovernados" que se encontram no terreno.

A identidade dos elementos envolvidos nos confrontos de hoje permanece em dúvida, com informações contraditórias sobre "quem disparou contra quem".

Notícias da capital dão igualmente conta do envolvimento de grupos mais ou menos numerosos de civis armados, a maioria jovens, desconhecendo-se se estão do lado do governo ou das forças rebeldes.

A rápida degradação da situação, levou a Austrália - que há vários dias tem preparada uma força de intervenção e que hoje instalou no território uma missão avançada de cerca de 130 homens - a ordenar a partida dos cerca de 1.300 militares, apesar de estar ainda pendente um mandato das Nações Unidas para uma força liderada pelos australianos e com contingentes de Portugal, Nova Zelândia e Malásia.

"Dada a deterioração da situação, vamos avançar sem qualquer condicionalismo com o destacamento completo e os 1.300 efectivos estarão no local muito rapidamente", anunciou em Camberra o primeiro- ministro australiano, John Howard.

O dia foi também marcado por um conflito institucional entre o Presidente da República, Xanana Gusmão, e o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, com o primeiro a anunciar que chamou a si todas as competências em matéria de segurança e o segundo a considerar que essa decisão é inconstitucional e a assegurar que mantém as competências na área da segurança.

Esta confrontação parece ter entretanto diminuído de tom, com fonte do gabinete de Alkatiri a dizer à Agência Lusa que a presidência contactou o gabinete do primeiro-ministro para lhe transmitir que, no seu entendimento, "tem de haver coordenação".

Em Nova Iorque, prosseguem as diligências diplomáticas para que a questão de Timor-Leste seja incluída na agenda da reunião de hoje do Conselho de Segurança e para que o pedido timorense para a constituição de uma força internacional seja objecto de uma declaração deste órgão que a legitime enquanto força internacional.

Kofi Annan, o secretário-geral da ONU, acompanha de perto a situação em Timor-Leste e, hoje, além de telefonar ao primeiro- ministro português para manifestar o seu apoio à criação de uma força militar e policial, nomeou Ian Martin, um especialista em Timor que chefiou a missão da ONU no território em 1999, como seu enviado especial ao país.

Entretanto, com o cair da noite, Díli transformou-se numa cidade fantasma, deixando de se ouvir os disparos que marcaram o dia na capital.

Tiros esporádicos são, todavia, ainda ouvidos nalguns bairros, designadamente nos de Balide e Taibessi, junto às saídas sul de Díli.

MDR/EL/RBV.

Lusa/fim

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