Wednesday, May 31, 2006

Timor-Leste: Alkatiri convoca Conselho Ministros extraordinário para 5ª feira

Timor-Leste: Alkatiri convoca Conselho Ministros extraordinário para 5ª feira


Lisboa, 31 Mai (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, a firmou hoje à Lusa que convocou para quinta-feira um Conselho de Ministros extra ordinário para analisar a situação no país e debater os resultados da reunião do Conselho de Estado.

Mari Alkatiri escusou-se a precisar os temas da agenda da reunião do Go verno, nomeadamente se demitirá ou não os ministros da Defesa, Roque Rodrigues, e do Interior, Rogério Lobato, como foi sugerido terça-feira pelo Presidente da República, Xanana Gusmão.

"Prefiro falar disso amanhã [quinta-feira]. Ouvi o conselho de Xanana, registei e vou partilhar isso com os meus colegas do Conselho de Ministros", afi rmou Alkatiri, contactado telefonicamente pela Lusa.

A convocatória do Conselho de Ministros surge depois do adiamento, por tempo indefinido, de uma reunião do Conselho Superior de Defesa e Segurança (CSD S) de Timor-Leste, que deveria ter-se realizado hoje em Díli.

Os ministros da Defesa e do Interior integram o CSDS, órgão de aconselh amento do Presidente da República de Timor-Leste.

Fonte governamental contactada pela Lusa disse anteriormente que o adia mento da reunião do CSDS deveu-se ao que classificou como um "braço de ferro" en tre o presidente e o primeiro-ministro timorenses.

"Há um 'braço de ferro' entre o presidente e o primeiro-ministro porque Xanana Gusmão quer que os dois ministros que aconselhou que sejam demitidos, se jam exonerados antes e não participem na reunião" do CSDS, disse a fonte governa mental, que preferiu não ser identificada.

Questionado sobre esse "braço de ferro", Mari Alkatiri afirmou que não pretende "criar quaisquer obstáculos ou dificuldades", mas indicou que no Consel ho de Estado "nunca houve esta exigência de demissões antes da reunião do CSDS".

"Aliás, se o Conselho de Estado tivesse decorrido normalmente teria sid o imediatamente seguido pelo CSDS e ninguém pensaria que deveria ter havido qual quer exoneração ou demissão entre os dois", frisou o chefe do governo timorense.

"Não quero criar dificuldades, mas simplesmente não estava informado de stas condições novas para que a reunião do CSDS pudesse ocorrer. Relembro que am bas foram solicitadas por mim, para que todos pudéssemos trocar ideias e impress ões e colocar opiniões e por isso estava convencido de que a reunião iria decorr er sem condições", sublinhou.

Frisando não pretender "qualquer tipo de 'braço de ferro'" com o Presid ente da República, Mari Alkatiri afirmou que se tivesse sido informado, à margem do Conselho de Estado, de que o afastamento dos ministros da Defesa e do Interi or era uma pré-condição para a reunião do CSDS, "teria dito que era impossível".

"Isso envolveria um processo, procedimentos. Não tenho por hábito impor condições ou exigências a outros órgãos de soberania e quero contribuir positiv amente para este processo", referiu.

Alkatiri disse que foi por essa razão que decidiu convocar o Conselho d e Ministros e manifestou-se convicto de que a reunião do CSDS "ocorrerá amanha [ quinta-feira] ou depois de amanhã".

Xanana Gusmão anunciou terça-feira, numa comunicação ao país, que acons elhou o primeiro-ministro a demitir os ministros da Defesa e do Interior e que a ssumia temporariamente a responsabilidade pelas áreas da defesa e segurança.

Mari Alkatiri confirmou que apesar de não ter sido exigida, a demissão dos dois ministros foi abordada na reunião do Conselho de Estado, explicando que o próprio presidente "foi claro na sua declaração, de que estava a fazer um ape lo ao governo".

"Isto [demissão de ministros] é da competência do primeiro-ministro e o próprio presidente pareceu compreender que haveria um 'timing' para o fazer, nã o para adiar o processo 'sine die', mas para cumprir os procedimentos normais", frisou.

Mari Alkatiri reiterou que continua à frente do governo e não tenciona demitir-se, excepto se o seu partido assim o exigir.

"Sou primeiro-ministro indigitado pelo meu partido. Face a toda esta pr essão, se eu me acobardasse estaria a trair o meu partido", afirmou, manifestand o convicto de que a estabilidade política poderá regressar a Timor-Leste em brev e.

A Agência Lusa contactou também uma fonte da Presidência da República, que se limitou a confirmar o adiamento da reunião do CSDS, sem adiantar quaisque r pormenores.

Timor-Leste, em particular Díli, vive uma situação de violência desde o final de Abril, depois de cerca de 600 soldados terem sido desmobilizados das F alintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), após protestos contra alegados actos de discriminação étnica por parte dos superiores hierárquicos.

A crise agravou-se com a deserção de efectivos das F-FDTL e da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) e após confrontos entre elementos das duas forças e grupos de civis armados, as autoridades timorenses solicitaram à Austrália, N ova Zelândia, Malásia e Portugal o envio de forças militares e policiais para re por a ordem.

A onda de violência em Díli resultou já em cerca de duas dezenas de mor tos, 70.000 desalojados e a pilhagem e destruição de diversas habitações e edifí cios públicos.

ASP/EL/PNG.

Lusa/Fim

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