Saturday, May 27, 2006

Timor-Leste: Coronel português atribui massacre de polícias a descontrolo de três militares

Timor-Leste: Coronel português atribui massacre de polícias a descontrolo de três militares


Lisboa, 27 Mai (Lusa) - O coronel português Fernando Reis, destacado em Timor-Leste, em missão da ONU, atribuiu ao "descontrolo de um militar" a origem do tiroteio quinta-feira de militares sobre polícias, de que resultaram 10 mortos e 28 feridos.

O militar português, conselheiro especial que chefia o Grupo de Treino Militar e Aconselhamento (MTAG), esteve no centro das operações de rendição dos polícias sublevados e liderou a coluna apeada que estava a ser transferida para as instalações da ONU em Díli.

Em contacto telefónico a partir de Lisboa, Fernando Reis assegurou à agência Lusa que o derramamento de sangue teve como causa "o descontrolo de um militar, logo seguido de mais dois", que se cruzaram com a coluna e abriram fogo.

Fernando Reis explicou que "ninguém mandou desarmar ninguém, os polícias desarmaram-se livremente. Foram eles que mandaram uma mensagem à UNOPOL (força de polícia das Nações Unidas em Timor-Leste) a dizer que se queriam render, porque não conseguiam contactar o general Matan Ruak, comandante das forças armadas timorenses, F-FDTL".

Uma vez que "havia cinco polícias da UNOPOL naquele comando e para evitar mais mortes e conseguir parar o tiroteio" o coronel Fernando Reis afirmou que expôs "a situação, que já era militar" a Sukehiro Hasegawa, o chefe da missão da ONU em Timor-Leste.

Depois de ter falado também com o general Matan Ruak, Fernando Reis deslocou-se "com dois militares do MTAG" ao comando da polícia, onde estabeleceu diálogo com o oficial da Polícia Nacional de Timot- Leste (PNTL).

"Perguntei se sempre se queriam render", disse Fernando Reis à Lusa. "E expus as condições: quem se quer render, deixa a arma num carro que trouxemos e tem de vir comigo. Quem não quiser entregar a arma, fica cá e sujeita-se." O militar português referiu que, entretanto, "chegaram colegas da UNOPOL e mesmo os mais renitentes seguiram o conselho. Foi tudo voluntário. A UNOPOL não obrigou ninguém a render-se".

Foi organizada uma coluna apeada, que seguiria atrás do militar português até às instalações da ONU em Díli.

"Eram cerca de 80 homens, formados a três e, aos lados coloquei viaturas para proteger de qualquer incidente", relatou Fernando Reis.

A coluna deparou-se, num cruzamento, "com três ou quatro militares" e, segundo Fernando Reis, elementos da UNOPOL e do MTAG adiantaram-se para lhes pedirem que se afastassem.

Foi aí que "um deles perdeu o controlo e atirou em alguém e isso foi um momento crítico". Em vão, tinha Fernando Reis pedido que "não corressem e não respondessem a provocações". De seguida, "outros dois soldados abriram fogo".

Fernando Reis disse ter ido no encalço dos três soldados que haviam disparado e levou-os ao quartel onde se encontrava Matan Ruak.

O comandante das forças armadas timorenses "pediu desculpa, mandou chamar os três militares" e, à frente do coronel português, anunciou- lhes que iriam "ser punidos".

"Acredito no general Matan Ruak, que é um homem de honra e de palavra", comentou Fernando Reis, que pela própria narrativa dos factos, considerou que "não faz sentido nenhum dizer que o episódio teve alguma intervenção política".

Sexta-feira, o major Reinado, líder de um dos grupos revoltosos, tinha responsabilizado o primeiro-ministro Mari Alkatiri pelo sucedido e a ONU por "ter desarmado os polícias".

"O que aconteceu ontem [quinta-feira] foi um verdadeiro massacre, e a culpa é do primeiro-ministro Mari Alkatiri, porque foi ele que ordenou às F-FDTL que atacassem o quartel da polícia", tinha dito Alfredo Reinado em entrevista telefónica à Agência Lusa, a partir do que chamou o seu "quartel-general", cuja localização não divulgou mas disse ser a cerca de duas horas de Díli.

O gabinete do primeiro-ministro escusou-se a comentar a acusação.

"Incidente lamentável", assim classificou Fernando Reis o episódio, "devido ao descontrolo de um militar. Não houve ninguém a dizer àquele louco para abrir fogo. Foi uma situação imprevisível, de alguém que, na altura, se descontrolou." OM Lusa/Fim

No comments: